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Entrevista com Saburo Sakai

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Mensagem por marcelonascar Sáb Ago 24, 2013 10:07 am

Uma tarde com Saburo Sakai. Entrevista com o ás japonês

Em 11 de agosto de 1998, um domingo, eu tive o prazer único de ser convidado à residência, em Tókio, do senhor Saburo Sakai, o grande ás japonês piloto de Zero na Segunda Guerra Mundial. Através de três horas, eu e ele discutimos muitos tópicos, quase todos envolvendo suas façanhas na SGM, mas outros assuntos mais abrangentes também.

Sakai-San fez 80 anos, mas ele está em perfeita saúde, tanto física quanto mental. Ele fala com muita energia, fazendo gestos amplos a todo instante. Ele é o modelo de ancião que todo mundo gostaria de se tornar um dia.

Eu vou avisar que não tomei nota por escrito, nem usei um gravador durante nossas conversas e essas “citações” foram escritas com base no melhor de minha memória. Por favor, não repita ou atribua essas citações a Sakai-San em nenhum fórum. A conversa foi em japonês e eu tentei, em minha tradução, escolher a melhor linguagem que expressasse a atmosfera de como o próprio Sakai-San estava falando. A ordem é aproximadamente a que discutimos nesses tópicos...


O Zero

Durante a guerra, eu estava convencido que o Zero modelo 21 era o melhor caça do mundo. Ele sempre foi o número um comigo. Então há alguns anos atrás, em Champlin, eu tive a chance de voar em um Mustang e controlá-lo por um certo tempo. Que avião incrível! Ele podia fazer tudo que o Zero podia e muitas outras coisas que o Zero não podia, como um mergulho em espiral a grande velocidade. No Zero o manche ficaria pesado demais para controlá-lo àquelas velocidades. Agora o Mustang é o número um comigo e temo que o Zero seja o número dois.


O caça embarcado Type 96 "Claude"

Aquele era de longe o caça mais incrível de seu tempo. Quando o Zero foi lançado, nós colocamos dois pilotos equivalentes em combate, um no Zero e outro no Claude e os fizemos combater. O Type 96 ganhou rapidamente. Então nós os fizemos trocar de aviões. O Type 96 venceu novamente. Naquele momento Todo mundo pensou que o Zero era um fracasso. Mas eles gostaram da autonomia do Zero. Se o Type 96 tivesse a mesma autonomia do Zero, poderíamos ter continuado usando-o até Pearl Harbor e além.


A chave para um bom caça

Sem duvida, o mais importante em um caça é sua autonomia. Eu não posso te falar o quanto isto te afeta quando você está na carlinga. Quando você sabe que possui abundância de combustível, isso realmente deixa você relaxado. Aqueles pobres alemães em seus Me109s! Eles mal podiam ganhar altitude e começar a lutar por uns minutos até começar a se preocupar com as reservas de combustível. Quando você está preocupado com o seu combustível, isso realmente afeta o que você faz com o avião, e até como você combate. Pense em quantos caças alemães acabaram no fundo do canal da Inglaterra porque não tiveram combustível para voltar para casa. Um avião que não tem combustível para voar é apenas lixo. Se os alemães tivessem 1000 Zeros em 1940 não acho que a Inglaterra ainda existiria hoje. Pense sobre isto: Com o Zero, eles poderiam operar de aeródromos próximos a Paris e ainda conseguir acertar um alvo em qualquer lugar nas Ilhas Inglesas ou escoltar bombardeiros e ainda ter combustível de sobra para retornar. Uma vez eu pilotei um Zero por 12 horas seguidas, em um experimento para descobrir o quão longe ele poderia ir. Essa autonomia em um avião é incrível. Isto é parte do que faz o Mustang grandioso também.


A maneabilidade dos Zeros

Oh sim, o Zero possuía uma maneabilidade incrível, mas não acima de 400-440 quilômetros por hora, o manche ficava demasiadamente pesado porque as superfícies de controle do avião eram enormes. Você tem visto esses filmes de Kamikazes mergulhando direto na água bem distante dos navios norte americanos, certo? Os garotos nesses aviões provavelmente entraram em mergulho cedo demais e, antes que percebessem seu erro, tinham velocidade demais para sair do mergulho. Eles provavelmente morreram puxando desesperadamente o manche com toda a sua força. Quando eu treinei esses garotos [pilotos Kamikazes], eu lhes dizia, “Se você tem de morrer, ao menos você gostaria de acertar o seu alvo, certo? Se é assim, vá baixo, rente à água. Não mergulhe em seu alvo. Você perde o controle em um mergulho. Você corre o risco de ser pego por um caça, mas você tem melhor chance de acertar seu alvo.”


Táticas e pilotos Kamikaze

Muitos ocidentais ficam chocados ao ver as táticas Kamikazes, a idéia de colocar um garoto em um avião e dizer para ele se matar chocando seu avião contra seu alvo. Mas mesmo se você não disser para ele se chocar contra nada, colocar um garoto com apenas 20 horas de vôo e mandar ele enfrentar pilotos americanos em Hellcats e Corsairs, é uma tática tão suicida quanto o Kamikaze. Nós entendemos que, se eles têm de morrer de qualquer jeito, o ataque Kamikaze irá causar maior dano ao inimigo, com o mesmo custo em vidas.

Mas deixe eu te falar, todo material que você leu sobre “Morrer pelo Imperador... Banzai!” Isso tudo é porcaria. Não existiu um piloto ou soldado Kamikaze que estivesse pensando no Imperador quando ele estava enfrentando a morte. Eles estavam pensando em suas mães e suas famílias, assim como todo mundo. O motivo pelo qual todas as cartas que eles escreviam para casa estavam cheias de coisas glorificando o imperador é porque eles sabiam que o pessoal da censura podia ler as cartas e porque eles apenas queriam tentar manter seus pais orgulhosos.


Vendo o inimigo

Boa visão é absolutamente essencial para um piloto de caça. Encontrar o inimigo mesmo meio segundo antes que ele o encontre, lhe dá uma grande vantagem. Eu ensinava meus pilotos a não apertarem muito os seus cintos de segurança, pois impedia de girar seu quadril do modo que você pudesse olhar direto para trás rapidamente. O campo de visão do Zero era fantástico. Eu não sei porque os aviões Grumman possuem esse fundo alto que impedem os pilotos de observarem o que está atrás deles. [Perder a visão de um olho o afetou a esse respeito?] Não realmente. Com o tempo aprendi a perceber de onde o inimigo apareceria, baseado nas condições. Eu nunca tive de buscar o céu 360º ou qualquer coisa assim para encontrá-los. Você apenas ganha o sentido de saber de onde eles vão surgir e procura naquela área mais intensamente. Um instinto, eu acho. E você não precisa realmente de percepção de profundidade, porque você pode medir a distancia pelo tamanho aparente do avião inimigo.


Perdendo por pouco Lyndon Johnson

Um dia abordei dois B-26 e derrubei um. Cheguei a dar alguns tiros no outro antes de o perder em uma formação de nuvens. Depois da guerra descobri nos arquivos dos EUA sobre o incidente do avião que conseguiu escapar, que ele estava transportando Lyndon Johnson! Você pode imaginar como eu poderia ter mudado a história se tivesse atacado primeiro o avião dele ao invés do outro? Vários americanos que conhecem essa historia chegaram para mim e disseram “Saburo, por que você não atirou no outro avião primeiro? Então nós poderíamos ter ficado de fora da guerra do Vietnam!”


Liderança da Marinha Imperial Japonesa

Promoções na marinha eram baseadas em qual escola você havia sido graduado e em quem você conhecia, não tinha nada a ver com mérito. Algum rapaz poderia destruir 20 aviões tentando aprender a voar e não conseguir derrubar droga nenhuma e ele seria promovido mais rápido que eu ou qualquer outro piloto bem sucedido, porque veio da escola certa. Esses eram os tipos de idiotas que estavam nos liderando. Como poderíamos ganhar a guerra com uma liderança como essa? Pegue aquele idiota [Minoru] Genda, ele poderia apenas voar, mas ele pulou de cima para baixo sobre o Shiden-kai ["George"], e todo mundo fingiu gostar disso também. Aquele avião era um pedaço de bosta moldada por uma firma de terceira [Kawanishi].


A Bomba Atômica

Uma vez eu estava num fórum de discussão com o [piloto do Enola Gay] Col. Paul Tibbets nos EUA e alguém me perguntou o que eu achava sobre a Bomba Atômica. Eu falei “Se o Japão tivesse a bomba e eles me mandassem pilotar o avião que a carregava para bombardear São Francisco ou outro lugar, eu teria feito com prazer. É o trabalho do soldado. Seguir ordens e lutar pelo seu país”. Eu penso que Tibbets foi um grande herói para os EUA por voar lá apenas com dois B-29 e sem escolta de caças, isso requer coragem. Nesta época ninguém sabia nada sobre a Bomba Atômica, não havia nenhum tratado internacional contra o seu uso, como havia para armas químicas. Os EUA até mesmo jogaram panfletos alertando o povo em Hiroshima que uma nova arma estava para ser usada. Isso é apenas guerra.


O estupro de Nanking

Não há duvidas que os soldados japoneses mataram alguns milhares de pessoas lá, mas estórias de 100 mil a 300 mil mortos são pura ficção. E a maioria dos “civis” mortos, provavelmente eram soldados chineses, se passando por não combatentes, não usando seu uniforme. Isso é contra a lei internacional. Por que eu não acho que essas estórias sejam verdadeiras? Em primeiro lugar, não havia na ocasião nem mesmo 300 mil pessoas em Nanjing naquela ocasião. A maior parte da população da cidade havia fugido quando eles escutaram que os japoneses estavam chegando. Segundo, havia mais de 200 jornalistas estrangeiros na área e você não consegue encontrar nenhuma noticia de atrocidade como essa nos jornais do dia. Não existe maneira de se esconder algo tão grande, mas essas historias não surgiram até DEPOIS do final da guerra. E as únicas fotos do suposto evento que são sempre publicadas foram tiradas de um documentário sobre isso e são falsas, feitas para o filme.


"Comfort women's" (*) clamam por compensação

(*)Escravas sexuais dos militares japoneses durante a guerra.

Buscando compensação de um governo estrangeiro 50 anos depois que algo aconteceu? Me poupe. A prescrição de um crime de assassinato é de 15 anos. Depois da guerra o governo japonês assinou acordos com a Coréia e outros paises cumprindo as obrigações de guerra. Estes eram acordos internacionais feitos na legalidade pelos governos de suas nações. Se certos grupos de vítimas possuem uma reivindicação, têm de enviá-las para seu próprio governo e não para um governo estrangeiro. Você não vê vítimas da bomba atômica indo para Washington reivindicar que o governo dos EUA pague pelo seu sofrimento, você vê? Não, o governo japonês paga a eles uma mesada. Se as “comfort women” possuem uma reivindicação, deveria ser com seu governo, Koreano ou Filipino. Eles estão apenas procurando por dinheiro, agora que o Japão é um país rico.


Protestos Sobre as Bases Norte Americanas no Japão

Essas pessoas são apenas estúpidas. Eles pensam que esses soldados poderiam atualmente começar uma guerra ou algo do tipo, embora eles seriam os primeiros a serem mortos? Eles pensam que se nos livrarmos dos exércitos, livraremos o mundo das guerras? Eles também pensam que se nos livramos dos médicos, livraremos o mundo das doenças? Por que não entendem que as forças armadas são como uma apólice de seguro em caso de emergência. Quem eles pensam que vai proteger o Japão no caso de uma invasão? O artigo nove da constituição [a parte da constituição japonesa que renuncia à guerra como um direito soberano]? Eles pensam que se colocarem copias do Artigo nove coladas em tábuas ao redor das praias do Japão, um invasor depois de ler vai se virar e voltar para casa?


Saburo Sakai sofreu um ataque cardíaco na Estação Aeronaval de Atsugi na terça-feira, 21 de setembro de 2002, quando ia apertar a mão de um oficial americano do outro lado da mesa. Tinha 84 anos.



Fonte: Entrevista com Saburo Sakai, feita por Scott Hards.
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